A pé ou de carro

Santo entranhado

Há um salmo que diz «Ele alcançou vitórias pela sua mão direita, pela força do seu santo braço». Há qualquer coisa na corporalidade de «braço».

Quando cantamos «Santa noite», esquecemo-nos de que os pastores ficaram aterrorizados, apesar de os anjos que lhes apareceram estarem a celebrar. Celebravam o nascimento de um humano, o único mamífero que nasce de costas, derradeiro inofensivo entre recém-nascidos.

A noção de santidade ainda me enjooa: outra definição de aborrecido, ou pior, de aborrecido e arrogante. Contudo, não é essa definição que vejo no texto; vejo um Deus tão bom que essa bondade é como ácido: vislumbramo-la e somos corroídos. Afinal, somos humanos.

Não, também não é essa a razão no texto: não é por sermos humanos, mas por não sermos humanos o suficiente. Foi por isso que anjos aterrorizram pastores naquela noite: estavam a celebrar o abismo que começou a ser fechado por um santo braço, por um humano verdadeiro. Há qualquer coisa na corporalidade de um Deus entranhado num parto.

#natal #teologia