A pé ou de carro

Inverno vulcânico

Há duzentos anos, tivemos um “ano sem Verão”. Em vez de praia, passeios e piqueniques, ficou frio, choveu e nevou. Subiu o preço do trigo, da carne, da couve, do leite. No Mediterrâneo, estaria escuro um metro à nossa frente. Mary Shelley escreveu Frankenstein porque Lorde Byron sugeriu “Já que estamos fechados em casa, que tal uma história?”

O “ano sem Verão” era consequência de um inverno vulcânico, que é o que acontece quando uma erupção vulcânica liberta tanta cinza e ácido sulfúrico que bloqueia a luz do sol. Foi o que fez a erupção do Tambora, na Indonésia, em 1815. Uma borboleta bate as asas no Porto e chove em Adelaide; um vulcão explode na Ásia e tapa o sol a um hemisfério.

É curiosa a nossa relação com a natureza. Alguns dizem “dominem-na que é nossa”, outros, “afastem-se que só lhe fazemos mal”, e é impossível fazer uma coisa ou outra. Mas a Terra domina-nos de vez em quando, a mesma Terra que ameaçamos, ameaçando a nossa própria existência. Excepto a dos mais ricos e loucos, que já têm uma malinha debaixo da cama pronta para Marte. Onde, por acaso, o ano sem Verão é permanente.


Editado a 5 de Dezembro de 2022.

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