A pé ou de carro

Aranha no Evereste de flanela

Encontrei uma aranha no cimo do seu monte Evereste: um painel de metro e meio de madeira, lã de rocha e uma camada de flanela branca. Terá vindo de longe. Podia ter encostado o meu nariz às perninhas dela.

Na categorização social de aranhas, onde será que ela se encaixa? Será a aranha anormal, a marginalizada? A perdida, com zero sentido de orientação (“eu estava à procura da estante…”)? Será celebrada como pioneira? Mais uma demanda da “Aventuranha”?

O que será sucesso para uma aranha? Uma teia bonita? Esta aranha não vai ter muita sorte em plena selva urbana. Nunca vi teia de aranha na cidade que batesse as teias de aranha do campo.

Será que a geografia do sucesso é inversa para uma aranha? Está tudo no campo? A julgar pelas teias… A nata está em terras onde só há um autocarro por dia e a ferrovia foi fechada há tantas gerações de aranhas que já não têm memória disso. Imagino as aranhas junto aos carris abandonados, ocupadas com teias que lembram naperons e colares de diamantes de muitas voltas e cruzamentos, a brilhar depois da chuva, e as aranhas arqueólogas curiosas acerca desta muralha de ferrugem até perder de vista — perguntam-se o que terá sido e procuram fósseis minúsculos que sugiram batalhas e comércio.

Tirei uma foto à aranha que escalou o Evereste de flanela, caso elas precisem para a posteridade aracnídea.

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