Na corrida para vender o espaço
Este ano, o espaço foi despromovido de bem comum da humanidade para bem comercial de alguns. «A questão em 2020», diz um advogado em direito espacial,1 «já não é se é legal ou ilegal usar recursos do espaço», mas «como governar isto de forma sustentável» (no fundo, decidir as regras depois de dada a partida).
Um exemplo do uso como bem comercial: a Astrobotic, que vai dar boleia ao próximo rover da NASA até à lua, leva também, por uma módica quantia, recordações nossas para pousar na lua, como uma foto de família ou uma madeixa de cabelo. Chama-se DHL Moonbox, e chama à lua mais uma parede em casa.
Faz-me pensar que o espaço teve a mesma evolução dos dinossauros nos filmes do Parque Jurássico: de misterioso e perigoso a parque de diversões. A exploração dos nossos limites, para detrimento desta, foi ligada à das nossas carteiras.
A constância da natureza humana (aqui na transição de fascínio para ganância) assusta-me e lembra Thoreau quando fala do «mesmo mundo, habitado pelos mesmos homens»).2
Contudo, como alguém disse a Caim, o pior está sempre à espreita, mas não tem sempre a vantagem. Queremos repetir no espaço o tratamento dado a oceanos e colónias?
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Chris Johnson pela Secure World Foundation, neste artigo. Imaginem-no em jantares: «Jorge, chega aqui. Não adivinhas o que o Chris faz». Chris vem preparado para falar, não para comer. ↩︎
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Thoreau’s Journals, 20 de novembro de 1837. ↩︎