Helen Czerski e a esperança de prestar atenção

Aqueles de nós que têm visto o que a ação coletiva (ainda que forçada) pode fazer pelo clima poderão recear o que acontecerá quando terminar o isolamento e voltarmos para a rua. Alguns de nós juntam-se ao coro de vozes de que fala Vítor Belanciano, o que proclama:

regressar à normalidade nem pensar, se por isso estivermos a nomear décadas que arruinaram sistemas de saúde, de habitação, segurança social e o ambiente, colocando-se o lucro privado à frente do bem-estar das comunidades e do planeta. (…) Não é suficiente olhar a pandemia como acidente, sem tirar daí consequências.

É um sinal de esperança se este isolamento nos levar a prestar atenção.

No livro Storm in a teacup: the physics of everyday life, Helen Czerski começa por falar do potencial para a ação escondido precisamente nesse momento. O livro é sobre padrões presentes em todo o universo — de galáxias distantes ao nosso fogão («What you can learn with an egg hatches into a principle that applies everywhere»); e é importante conhecermos esse universo para sermos cidadãos conscientes:

Learning the science of the everyday is a direct route to the background knowledge about the world that every citizen needs in order to participate fully in society.

(…)

Critical thinking is essential to make sense of our world, especially with advertisers and politicians [aos quais eu acrescentaria grupos de pressão] all telling us loudly that they know best. We need to be able to look at the evidence and work out whether we agree with them. And there’s more than our own daily lives at stake. We are responsible for our own civilization. We vote, we choose what to buy and how to live, and we are collectively part of the human journey.

Cimentados nesta convicção, aprendemos, por exemplo, o que as ondas do mar têm em comum com as ondas do chá quente que seguramos nas mãos ao navegar corredor fora; ou o que acontece a uma mancha de café para ficar tão vincada nas margens quando seca. É como andar com muitos episódios de Radiolab no bolso: uma série de demonstrações do que o nosso mundo tem de sublime. Dar-lhes atenção dá-nos direção e incentiva-nos a agir.