Arte e ciência fundem-se em conservação
Ao trabalhar em «The many deaths of a painting», um episódio de 2019 de 99 Percent Invisible (por coincidência, de 26 de março, quase precisamente há um ano), John Fecile, produtor do episódio, apaixonou-se por conservação. «Este emprego é o mais fixe de todos, não existe trabalho melhor do que este.»
O motivo do fascínio era a fusão de áreas de estudo tipicamente consideradas opostas, a arte e a ciência. Um conservador tem de, por um lado, pensar como um artista para perceber «o que o artista estava a tentar fazer»; por outro, recorrer a conhecimento, técnicas e ferramentas das ciências exatas para restaurar quadros.
Com um scanner, conseguem mapear a superfície de um quadro para identificar os seus elementos («aqui zinco, aqui cobalto…»). Com emulsões e gel, dissolvem materiais adicionados. Levam quadros a hospitais para lhes tirarem raios-X. A técnica mais interessante é o uso de oxigénio atómico — desenvolvida pela NASA enquanto procurava formas de evitar a sua ação corrosiva no espaço — para remover fuligem de quadros danificados em incêndios.
Por causa disto, ele descreve o trabalho como um «híbrido de artista (eles talvez dissessem assistente de um artista) e cientista forense do CSI».
Logo depois de revisitar este episódio, tropecei num vídeo do The MET sobre a conservação de um desenho de Miguel Ângelo, onde vemos um híbrido em ação. Fica para demonstração de que o mundo permanece fascinante.