Árvores, armado, betão, diálogo
Fomos surpreendidos com um abate de árvores históricas, um abate que não compreendemos e só pode estar relacionado com a obra da IP. É mais uma evidência de que não vão parar apesar da população se manifestar contra e da obra constituir um total desrespeito pela identidade da zona."1
Isto foi Vasco Sousa, porta-voz do movimento cívico Cidadãos da Praia da Granja, um movimento que tem procurado impedir uma obra que envolve arrancar árvores centenárias da mesma zona balnear onde Sophia de Mello Breyner passou os Verões — onde fica a “casa branca em frente ao mar enorme” — e plantar, no lugar delas, três metros de muro de betão armado.
A Câmara e a IP não parecem dialogar com os cidadãos que, da sua parte, estão a fazer o que podem para se organizarem e dizerem o que querem. São estes cidadãos que terão de viver com as consequências das decisões tomadas por cima deles, em seu nome. O que eles têm a dizer devia ser considerado. Mais: devia ser determinante.
Imagino algo muito melhor do que isto. Imagino os vários actores no mesmo espaço público, em diálogo, tendo estes moradores o poder de cuidar do lugar onde vivem.
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Do artigo Movimento cívico denuncia abate de “árvores históricas” em obra da IP em Gaia, no Observador, a 14 de Maio de 2022. ↩︎